terça-feira, 15 de setembro de 2020

6ºAnos: A,B,C (Clayton - Português)

 

• Vocês já leram e ouviram  várias histórias, seja na  escola ou em casa. Quem  se lembra de ter lido ou  ouvido contos?  

• Que tipo de contos vocês  já ouviram falar? 

• Já ouviram alguma  história de mistério,  fantasma ou assombração? • Gostam desse tipo de  história? 

• Como tiveram contato  com essas histórias?  Alguém da família contou? 

Conto de Assombração - Maria Angula

          Maria Angula era uma menina alegre e viva, filha de um fazendeiro de Cayambe. Era louca por uma fofoca e vivia fazendo intrigas com os amigos para jogá-los uns contra os outros. Por isso tinha fama de leva-e-traz, linguaruda, e era chamada de moleca fofoqueira.
           Assim viveu Maria Angula até os dezesseis anos, decidida a armar confusão entre os vizinhos, sem ter tempo para aprender a cuidar e a preparar pratos saborosos.
           Quando Maria Angula se casou, começaram os seus problemas. No primeiro dia, o marido pediu-lhe que fizesse uma sopa de pão com miúdos, mas ela não tinha a menor ideia de como prepará-la.
           Queimando as mãos com uma mecha embebida em gordura, acendeu o carvão e levou ao fogo um caldeirão com água, sal e colorau, mas não conseguiu sair disso: não fazia ideia de como continuar.
           Maria lembrou-se então de que na casa vizinha morava dona Mercedes, cozinheira de mão-cheia, e, sem pensar duas vezes, correu até lá.
      — Minha cara vizinha, por acaso a senhora sabe fazer sopa de pão com miúdos?
      — Claro, dona Maria. É assim: primeiro coloca-se o pão de molho em uma xícara de leite, depois despeja-se este pão no caldo e, antes que ferva, acrescentam-se os miúdos.
      — Só isso?
      — Só, vizinha.
      — Ah — disse Maria Angula —, mas isso eu já sabia!
           E voou para a sua cozinha a fim de não esquecer a receita.
           No dia seguinte, como o marido lhe pediu que fizesse um ensopado de batatas com toicinho, a história se repetiu:
       — Dona Mercedes, a senhora sabe como se faz o ensopado de batatas com toicinho?
  E como da outra vez, tão logo a sua boa amiga lhe deu todas as explicações, Maria Angula exclamou:
       — Ah! É só? Mas isso eu já sabia! — E correu imediatamente para casa a fim de prepará-lo. 
            Como isso acontecia todas as manhãs, dona Mercedes acabou se “enfezando”. Maria Angula vinha sempre com a mesma história: "Ah, é assim que se faz o arroz com carneiro? Mas isso eu já sabia! Ah, é assim que se prepara a dobradinha? Mas isso eu já sabia!". Por isso a mulher decidiu dar-lhe uma lição e, no dia seguinte…
       — Dona Mercedinha!   — O que deseja, dona Maria?
       — Nada, querida, só que meu marido quer comer no jantar um caldo de tripas e bucho e eu…
       — Ah, mas isso é fácil demais! — disse dona Mercedes. E antes que Maria Angula a interrompesse, continuou:
       — Veja: vá ao cemitério levando um facão bem afiado. Depois espere chegar o último defunto do dia e, sem que ninguém a veja, retire as tripas e o estômago dele. Ao chegar em casa, lave-os muito bem e cozinhe-os com água, sal e cebolas. Depois que ferver uns dez minutos, acrescente alguns grãos de amendoim e está pronto. É o prato mais saboroso que existe.
       — Ah! — disse como sempre Maria Angula. — É só? Mas isso eu já sabia!
            E, num piscar de olhos, estava ela no cemitério, esperando pela chegada do defunto mais fresquinho. [...]Teve ímpetos de fugir, mas o próprio medo a deteve ali. [...] Voltou para casa e logo que conseguiu recuperar a calma, preparou a janta macabra que, sem saber, o marido comeu lambendo-se os beiços.
            Nessa mesma noite, enquanto Maria Angula e o marido dormiam, escutaram-se uns gemidos nas redondezas. Ela acordou sobressaltada. O vento zumbia misteriosamente nas janelas, sacudindo-as, e de fora vinham uns ruídos muito estranhos, de meter medo a qualquer um.
            De súbito, Maria Angula começou a ouvir um rangido nas escadas. Eram os passos de alguém que subia em direção ao seu quarto, com um andar dificultoso e retumbante, e que se deteve diante da porta. Fez-se um minuto eterno de silêncio e logo depois Maria Angula viu o resplendor fosforescente de um fantasma. Um grito surdo e prolongado paralisou-a.
       — Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou da minha santa sepultura!
            Maria Angula sentou-se na cama, horrorizada, e, com os olhos esbugalhados de tanto medo, viu a porta se abrir, empurrada lentamente por essa figura luminosa e descarnada. A mulher perdeu a fala. Ali, diante dela, estava o defunto, que avançava mostrando-lhe o seu semblante rígido e o seu ventre esvaziado.
       — Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou da minha santa sepultura!
            Aterrorizada, escondeu-se debaixo das cobertas para não vê-lo, mas imediatamente sentiu umas mãos frias e ossudas puxarem-na pelas pernas e arrastarem-na gritando:
       — Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou da minha santa sepultura!
            Quando Manuel acordou, não encontrou mais a esposa e, muito embora tenha procurado por ela em toda parte, jamais soube do seu paradeiro.


( *  Extraído de:Contos de assombração,4 ª.ed.Co-edição Latino-Americana.São Paulo,Ática,1988.“Maria Angula” é um conto da tradição oral equatoriana. Esta versão foi escrita por Jorge Renón de La Torre a partir de um relato que lhe fez Maria Gomez, uma mulher de 70 anos, que vive no povoado de Otán)

Responda.


1) Quem era Maria Angula? Descreva-a.

2) Quando começaram a aparecer os problemas de Maria Angula?  Por quê?

3) Como ela conseguia preparar as comidas que fazia?

4) Por que Dona Mercedes acabou se “enfezando” com a moça? Explique.

5) O que aconteceu para a  moça depois que ela preparou a janta macabra?

6) Quem conta esta história com certeza quer passar alguma lição. Na sua opinião qual é?

7)  Este conto é um conto fictício da tradição oral equatoriana. Você conhece algum conto deste tipo da tradição brasileira? Qual?

8) Numere de acordo com a ordem do texto.

1) (___)  A moça viveu até os dezesseis anos, decidida a armar confusão entre os vizinhos, sem ter tempo para aprender a cuidar e a preparar pratos saborosos.
2) (___) Quando Maria Angula se casou, começaram os seus problemas
3) (___) Dona Mercedes, cozinheira de mão-cheia, morava na casa vizinha e Maria corria até ela toda vez que precisava de alguma receita.  
4) (___)  Maria Angula começou a ouvir um rangido nas escadas e aterrorizada sentiu as mãos frias a puxar-lhe as pernas. 
5) (___)  Maria Angula era uma menina alegre e viva, filha de um fazendeiro de Cayambe.
6) (___)  Até que a mulher decidiu dar-lhe uma lição e ensinou-lhe uma receita macabra.
7) (___) Quando Manuel acordou, não encontrou mais a esposa e, muito embora tenha procurado por ela em toda parte, jamais soube do seu paradeiro.
8) (___)  Num piscar de olhos, estava ela no cemitério, esperando pela chegada do defunto mais fresquinho. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário