Aula 2 - Figuras de linguagens
Catacrese
Catacrese é uma figura de palavra, considerada por muitos como um tipo de Metáfora. Seu uso é muito comum. Caracteriza-se por utilização de um termo fora de seu sentido real. Ela é empregada naturalmente, por não existir um nome adequado ou específico para identificar aquilo que se quer expressar.
São exemplos:
- Costas da cadeira
- Manga da camisa
- Asa da xícara
- Pé da mesa
- Cabeça de alho
- Braço do rio;
- Fio de óleo;
- Braço do sofá;
- Cabeça de alfinete
- Folha do livro;
- Pé da montanha;
- Mão de direção;
- Batata da perna;
- Sacar dinheiro;
- Cabeça de prego.
Para entender a Catacrese
Esta figura de linguagem, que é também denominada figura de palavra é empregada utilizando-se vocábulos no sentido figurado ou conotativo.
A linguagem figurada caracteriza-se por representar um sentido que não é o real. (sentido figurado). É um entendimento subjetivo que só é válido dentro do contexto em que se encontra.
Catacrese – Um empréstimo de palavras
Tomemos como exemplo a expressão “manga de camisa”. A palavra manga está empregada fora de seu sentido real e sabemos que não existe outra palavra para definir esta parte de nossa roupa. Então tomamos de empréstimo esta palavra para denominá-la.
Muitas palavras, das quais a catacrese faz uso, são emprestadas ou originadas de outras, devido à semelhança que possuem com o ser que se deseja nomear
Alguns termos de tanto serem empregados em outros sentidos, perderam sentido próprio e servem a muitos significados. Bons exemplos são palavras como:
- Espalhar – O significado original é “despalhar ou separar palha”. Porém é usada em diversos contextos. “Espalhar dinheiro”, espalhar roupa, brinquedos, papéis. O significado inicial foi praticamente esquecido.
- Enterrar– Significado original é “colocar ou introduzir na terra”. Mas, veja como pode ser usada:
Vamos “enterrar” este assunto. (Esquecer)
Enterrou a faca no lombo do animal. (Enfiou)
…Com a moral toda “enterrada” na lama. (Verso de música de Beth Carvalho), (quer dizer que a pessoa está desacreditada, foi difamada).
Existem muitas expressões e vocábulos muito populares. São usados, tanto na fala quanto na escrita:
- Braço do rio;
- Fio de óleo;
- Braço do sofá;
- Cabeça de alfinete;
- Maçãs do rosto;
- Folha do livro;
- Pé da montanha;
- Mão de direção;
- Batata da perna;
- Sacar dinheiro;
- Cabeça de prego.
Metonímia
Metonímia é a figura de linguagem que possibilita troca de um termo por outro de mesma similaridade. Para conceituá-la com maior clareza podemos dizer que é definida como a substituição de uma palavra por outra, quando há relação de contiguidade, ou seja, proximidade de sentido entre elas. É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si.
Exemplos:
A viagem à Lua significou um grande avanço para o “homem”. (Neste caso a palavra homem foi empregada no lugar de “humanidade”. A parte foi citada para substituir ou representar o todo.)
Eu uso sempre “Bombril”. (Aqui a palavra Bombril substitui palha de aço. O nome da marca substitui o produto.)
Quando troca-se o autor pela obra.
Exemplos:
Você precisa “ler Shakespeare”.Ela adora “ler Jorge Amado”.
Nestes casos o nome da obra é suprimido do texto, ou seja é substituído pelo nome do autor. Entendemos que nem Jorge Amado nem Shakespearesão lidos, e sim seus livros.
Quando o continente é substituído pelo conteúdo.
Exemplos:
- Os meninos comeram dois “pratos” no jantar.
- Tomamos 3 “garrafas” de cerveja.
- Comi 1 “lata” de atum.
Todos sabem que não é possível ingerirmos “pratos”, “garrafas” e “latas”. O que aconteceu foi que nos alimentamos do conteúdo destes recipientes. O continente que é a embalagem foi trocado pelo produto (conteúdo).
Se trocarmos o inventor por seu invento.
Exemplos:
- “Thomas Edison” iluminou o mundo.
- “Graham Bell” eliminou as distâncias.
- Thomas Edison inventou a luz elétrica. Quem ilumina é a lâmpada elétrica descoberta por ele.
- Graham Bell é o inventor do telefone, que acaba com o problema da distância entre as pessoas.
Quando se toma o abstrato pelo concreto, ou vice-versa
Exemplos:
Não resisti aos apelos daquela “meiguice”.
Meiguice indica uma pessoa meiga, singela.
Caso o símbolo seja trocado pela coisa ou entidade.
Exemplo:
Pela “cruz” vencerás.
A cruz simboliza a fé do cristão, sua crença e confiança em Deus.
Se o efeito for tomado pela causa ou vice-versa.
Exemplos
Ganharás o pão com o “suor de teu rosto”.ouRespeito seus “cabelos brancos"
Observamos que a palavra trabalho foi substituída pela expressão “suor de teu rosto”. Podemos entender que o suor é o efeito, pois é a causa de muito trabalho.
Na segunda frase “cabelos brancos” é o efeito causado pela idade avançada de alguém.
Metonímia X Metáfora
Vale esclarecer que há diferença entre Metonímia e Metáfora, apesar de ambas serem figuras de linguagem. A metáfora estabelece, mesmo que não claramente, uma comparação. Sabemos que uma comparação está sendo feita apesar de não aparecerem os termos comparativos.
Na Metonímia uma palavra é substituída por outra, quando os dois termos possuem uma proximidade de sentido. (Contiguidade). Ela pode ocorrer de várias formas no texto, conforme vimos acima (tipos).
Metáfora
Metáfora é uma figura de linguagem. É um recurso semântico, Quer dizer que é um meio utilizado por quem escreve, ou por quem fala, para melhorar a expressividade de um texto literário. Quando é empregada em uma frase, faz com que esta se torne mais eloquente para os que a leem e a ouvem.
As Metáforas estão presentes em todos os âmbitos de nosso cotidiano. Aparecem por exemplo: na música, nas poesias, e o tempo todo em nossa fala. Estudiosos da língua já deduziram que usamos em média 4 metáforas a cada minuto, em uma conversa informal.
As Metáforas estão presentes em todos os âmbitos de nosso cotidiano. Aparecem por exemplo: na música, nas poesias, e o tempo todo em nossa fala. Estudiosos da língua já deduziram que usamos em média 4 metáforas a cada minuto, em uma conversa informal.
Pode ser entendida como um artifício linguístico capaz de promover uma ]transferência de significado de um vocábulo para outro, através de comparação não claramente explícita. Veja alguns exemplos:
Aquele rapaz é um “gato”. – A metáfora ocorre porque implicitamente o rapaz é comparado a um gato. Quer dizer que é encantador, fofinho, bonito, etc.
Notamos que é uma comparação, mesmo sem a presença de uma conjunção comparativa. Trata-se de comparar sem utilizar um conectivo, (por exemplo “como”), que caberia naturalmente na frase.
Aquela menina é uma “flor”. – Subtende-se que a menina é meiga, bonita, cheirosa, delicada. Ou seja possui características de flor. Mas, sabemos que aqui o vocábulo “flor” não se refere ao órgão de reprodução de uma planta.
- Esta questão é apenas a” ponta do iceberg”. (Quer dizer que a questão é pequena diante de outras.)
- Ela é uma “formiga” para doces. (Quer dizer que ela adora doces como se fosse formiga)
Presente na poesia e na música
Tomemos como exemplo alguns versos do poema de Vinícius de Morais- “Rosa de Hiroshima”
Da rosa de Hiroshima
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa..
(Trecho retirado do site Letras)
(Trecho retirado do site Letras)
Na poesia, Vinícius usa muitas metáforas. Uma que chama muito a atenção é a palavra “rosa” usada no lugar de “bomba”. O texto nos induz a comparar a bomba jogada sobre Hiroshima com uma rosa.
Vejamos a equivalência possível entre os dois termos:
Vejamos a equivalência possível entre os dois termos:
A rosa é uma flor que se abre em muitas pétalas, e exala perfume. A bomba também se abriu ao explodir, e a imagem lembrou a de uma rosa a desabrochar. Porém exalou radioatividade e espalhou o mal.
Outra comparação é se refletirmos sobre a difusão e a expansão que os dois termos podem denotar. O cheiro da rosa é capaz de difundir-se exalando perfume e podendo ser projetado por determinadas distâncias. A bomba de Hiroshima, difundiu um mal que se projetou por longas distâncias e até mesmo através do tempo.
Também observamos que o poeta chama a bomba de “rosa hereditária”. A expressão é metafórica e talvez se refira às consequências causadas. O acontecido acarretou um mal que se perpetuou, que passou de geração para geração, de pai para filho. Pode ser uma maneira de não nos deixar esquecer do câncer disseminado pelo alto poder da radiação.
Metáfora nas propagandas
A metáfora também está presente em propagandas e comerciais veiculados pela mídia. A todo momento nos deparamos com outdoors, panfletos e cartazes nos revelando características semânticas entre termos ou expressões.
Exemplo é a propaganda do sabão em pó Omo "se sujar faz bem" faz alusão as crianças que podem brincar e as mães terão menos trabalho para lavar sua roupa.
Paradoxo
Exemplo é a propaganda do sabão em pó Omo "se sujar faz bem" faz alusão as crianças que podem brincar e as mães terão menos trabalho para lavar sua roupa.
Antítese
Antítese é a figura de estilo que usa palavras ou expressões com sentidos opostos, que contrastam entre si. Ocorre quando há a aproximação destes termos contrários. Esta aproximação dá ênfase à frase e assegura maior expressividade à mensagem a ser transmitida.
Por ser uma figura de linguagem, que pertence à categoria das figuras de pensamento, carrega sempre um tom conotativo.
São exemplos de Antítese:
- A sina dos médicos é conviver com a doença e a saúde.
- Ele estava entre a vida e a morte.
- A vida é mesmo assim, um dia a gente ri e no outro a gente chora.
- Alegrias e tristezas são constantes da vida.
- A educação é luz sobre trevas.
- O soldado contava suas derrotas e vitórias.
- O amor e o ódio são sentimentos bem próximos.
- Uma linha tênue separava a verdade da mentira.
Uma observação interessante é o fato de não acontecer contradição entre os antônimos usados. Apesar de serem opostos, eles não se contradizem, ao contrário dão maior destaque à ideia que está sendo desenvolvida.
A antítese dá ao texto maior ênfase, pois os termos contrários, próximos, reforçam a mensagem que se quer passar.
Antítese – Só para contrariar
Como podemos observar, a antítese é a figura do oposto, de tudo aquilo que se contraria e que é inverso um do outro. É um recurso linguístico muito usado na fala e na escrita. É estratégia utilizada com frequência, especialmente na poesia e na música.
Está presente na música e na literatura
Antítese se faz presente na música. Podemos encontrar um exemplo na canção de Victor e Leo “Meu Eu em você”. Aqui está um trecho, onde além da Antítese, encontramos também Metáfora.
Sou teu céu e teu inferno,
Sou teu tudo, sou teu nada
Outra música que tem em seus versos exemplos de antítese é “Certas Coisas” de Lulu Santos. Observe o trecho abaixo:
Não existiria som se não houvesse silêncio
Não haveria luz se não fosse a escuridão
Antítese ou Paradoxo
É bastante importante saber diferenciar Antítese de Paradoxo. É comum confundi-las, devido às suas características semelhantes. Ambas são figuras de linguagem e fundamentam-se na oposição. Porém há diferença entre elas.
A Antítese utiliza palavras que são opostas quanto ao sentido, mas que apesar de serem contrárias, reforçam a mensagem que se deseja passar. O Paradoxo também utiliza a oposição entre dois termos contraditórios, mas estes referem-se a uma mesma ideia ou pensamento.
Veja os exemplos e perceba a diferença:
Antítese
Nos versos de Cazuza há Antítese:
O mundo inteiro acordar e a gente dormir, dormir…
Constitui Antítese pois são duas ideias antônimas ou contrárias, enfatizando a mensagem. Enquanto o mundo inteiro vai acordar, a gente vai dormir. Se refere a duas condições e personagens diferentes, um que vai acordar e outro que vai dormir.
Paradoxo
Na música “Simples Carinho” de Ângela Rô Rô, encontramos Paradoxo nos versos:
Pois ontem à noite
Sonhando acordada
Dormi com você
“Acordada e dormi” são duas palavras opostas que usam um mesmo referente. Elas se juntam e dão ao contexto um mesmo sentido. Os termos estão fundidos em uma mesma ideia.
Mais exemplos:
Outro exemplo de Paradoxo está na música “Tiranizar” – de Caetano Veloso. Observe os versos:
“Se… me prender
Vai ter que … me soltar”
(Retirado do site letras.mus.br/caetano-veloso/tiranizar)
O paradoxo está na contradição que há entre uma coisa e outra. Como alguém pode estar preso e solto ao mesmo tempo? Percebemos que são duas coisas que se opõem, mas estão fundidas em um mesmo sentido. O eu lírico coloca uma condição. Ficar preso pelo amor, desde que seja com liberdade.
Paradoxo
Paradoxo é também chamado Oxímoro. É definido como aproximação de palavras contrárias, que podem ser associadas em um mesmo pensamento.
Trata-se de figura de Linguagem ou figura de estilo que reúne ideias contraditórias dentro de um mesmo contexto. É interessante observar que a ideia paradoxal, muitas vezes parece ilógica, mas que pode perfeitamente estar dentro do real. Trata-se de uma contradição possível e que tem significado.
A linguagem paradoxal vai além do senso comum. É utilizada para dar mais expressão ao texto, através da incoerência. Também pode ser usada para manifestar ironia.
De onde vem a palavra Paradoxo
Paradoxo tem sua origem no vocábulo grego “paradoxos”. Este termo significa algo contrário ao senso comum. Foi incorporado à língua portuguesa através do latim “paradoxon”, que na linguagem latina significa “contrário à opinião”. Por isto é que Paradoxo ficou conhecido como afirmação que aparenta oposição ao que se pensa no senso comum. É uma proposição contraditória.
Exemplos:
“Amor é fogo que arde sem ver…É um contentamento descontente…Dor que desatina sem doer.
“Soneto de Camões”
No soneto, Camões mostra através de paradoxos, a contradição do amor. Ele revela como este sentimento é capaz de despertar emoções que se contradizem, mas aceitáveis, por possuírem significado emocional.
Na música “Brasil” de Cazuza:
…Grande pátria desimportante.Em nenhum instante eu vou te trair, não vou te trair…
Podemos perceber o contraditório no fato da música chamar o Brasil de “Grande pátria” e ao mesmo tempo, classificá-la como “sem importância”. Grande e desimportante são dois termos que se opõem. E no entanto, estão juntos formando um mesmo contexto significativo.
Uma interpretação provável do texto sugere que o eu lírico considera a pátria grande em território e em riquezas naturais, porém insignificante politicamente.
Exemplos
- Ele não encara a realidade, vive sonhando acordado.
- Riquinho, personagem das HQs é o pobre menino rico.
- O pobre demonstrou sábia ignorância.
- …a casa que ele fazia… era sua liberdade / Era sua escravidão. (Vinícius de Moraes)
- O teto que o abrigava era também desproteção.
BOM FINAL DE SEMANA A TODOS
GRATIDÃO
Prof. Tali.
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